sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Um dedinho de prosa

Como você se sente quando suas potencialidades não correspondem às suas expectativas?

Adoro a poesia e admiro quem tem o dom e a facilidade de brincar com os sentimentos e as palavras. Eu queria ser poeta, dominar essa arte com leveza e elegância.

Eu? Eu escrevo. Tento transformar sentimentos em palavras, sensações em verbetes, pensamentos em vocábulos. Mas, infelizmente, fui condenado a essa forma de prosa, prosaica, lugar comum. Tenho o espírito triste, um olhar melancólico. Sinto que tenho alma de poeta. Tão somente a alma.

Minha criatividade e o meu intelecto são absolutamente incapazes de tratar as palavras com carinho. Surro-as, despejo-as, sem paixão, sem emoção. Desordenadas e caóticas. Apenas empilhadas, parágrafo após parágrafo.

Que emoção seria eu capaz de despertar, de instigar, se quando muito trago nos meus textos um pouco de razão?

O poeta não faz apenas poesia; dá som às palavras, cor aos sentimentos, aroma aos trocadilhos. Eu faço cinema mudo, preto-e-branco, construo jardins sem flores. É como se eu tivesse nascido para voar, mas minhas asas me foram negadas.