Feitas as considerações iniciais, todos sabem como é difícil começar um texto. Às vezes temos tantas idéias, tantos conceitos, mas, sabe-se lá porque, eles ficam aprisionados dentro de nós, trancados atrás de uma porta chamada “primeiro parágrafo”. Depois de aberta, as idéias costumam fluir com naturalidade.
Mas isso é pra quem tem idéias. E o que eu mais queria era ter uma idéia. Mas não uma idéia qualquer. “A idéia”. Criativa e original. Encantadora e arrebatadora, o que tá difícil. Muito difícil.
Eu já publiquei... (deixa eu ir no blog contar...) 11 textos. 12 com este. Escritos e salvos no computador pessoal, algo em torno de 130 (muitos dos quais nunca serão publicados, asseguro). E até hoje, nada. Nenhum clarão, nenhum súbito momento de inspiração divina, de elevação espiritual. Nada.
E é exatamente isso que eu espero. Um dia (eu ainda sonho que esse dia vai chegar) vou sentir uma profunda inspiração e, quase que possuído por uma genialidade cósmica, vou arder em uma febre onívora de observação e vou conceber minha obra prima. E vou poder enfim sentir o deleite sagrado dos deuses, o regozijo supremo.
Tenho certeza que quando Mozart compôs sua obra prima, Don Giovanni, ele deve ter curtido muito o seu momento, concluindo: “eu sou foda!”. Einstein, depois da teoria da relatividade, deve ter acendido um belo charuto, tomado uma taça de vinho, e pensado: “pobres mortais...”. O que eles tinham em comum? Eram gênios, e sabiam disso. E sabiam também que suas obras eram fantásticas. Eles riam por dentro, de tanta felicidade.
E eu? Eu já estou cansado das vozes que eu ouço. Elas não me sopram nenhuma coisa interessante, digna de registro. Conversando com um garfo, ontem, percebi que estou cada vez mais longe do que nunca de ter uma idéia genial. O que também deve ser consenso entre vocês, leitores. Mas teimoso como sou, eu ainda não desisti de encontrar, perdida por aí, a criatividade perdida de alguém.