terça-feira, 30 de novembro de 2010

À sua imagem, minha semelhança


Não me interessa quem eu sou. Ainda insisto no velho erro de tentar me definir. Logo eu, falando sobre mim, que incoerência.

Eu sou aquele velho retrato, preto-e-branco, em alguma prateleira na casa da sua avó. Sou aquele antigo disco de vinil, esquecido na caixa de algum guarda-roupa. Ou apenas mais um blog, chato e maçante, em meio a tantos vídeos e músicas que rolam na internet.

Não perca seu tempo querendo me entender. Já basta o tempo que eu perdi. Eu não quero ser, quero apenas estar. Não tenho rótulos, sou uma garrafa vazia, me encho com o que você me dá.

Fique a vontade para me rotular, sou exatamente aquilo que você acha que eu sou. Olhe atentamente nos meus olhos. Olhe, julgue, rotule. E verá você. Porque eu, eu não sou ninguém. Eu sou apenas o seu espelho.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Hoje não


Deixem-me em paz. Tudo que eu quero é me fechar no meu mundo, me curtir na solidão dos meus pensamentos. Quero sentir a lágrima que desce pela minha face, gelada, fazendo seu caminho rumo ao solo. Quero mergulhar o rosto no travesseiro, e gritar sem ser ouvido.

Quero morrer por um dia. Quero viver esse vazio que me enche o peito. Quero gozar essa tristeza, e me sufocar com essa melancolia. Quero sentir a raiva do mundo, me sentir culpado, me sentir injustiçado. Quero explodir em ódio e te culpar. Culpar o mundo. Culpar todo mundo.

Quero um pouco de paz e muito silêncio. Quero verter lágrimas negras, imundas, até que minha alma fique limpa, lavada, e meu choro cristalino.

Não se preocupe. Voltarei a sorrir. Desatarei este nó em minha garganta. Voltarei a viver com a pouca alegria que sempre tive. Voltarei a ver as cores que embelezam o mundo, saborear os sons que alegram o cotidiano. Sim, eu renascerei.

Mas não hoje.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Metade é muito


Às vezes penso: quanta coisa já vivi. Se fosse listar o que já me aconteceu, não saberia nem por onde começar.

Infância? Os pés descalços, os primeiros amigos, a família... a escola, as "tias", merenda, lanche, recreio... cada natal, cada presente, cada aniversário. Cada choro, cada palmada....  Aprender a andar de bicicleta, cair, levantar. Cada série que cursei, um pequeno mundo que criei. Adolescência? Faculdade? Trabalho?

Um pequeno detalhe destranca uma porta esquecida na memória. Talvez fosse mais fácil separar as lembranças por sentidos... cada imagem, cada sabor, cada música que gostei... não, não... impossível!

As cidades, as casas que morei, poucas, eu sei, mas ricas em lembranças, em histórias.  E as pessoas? Quantas cruzaram meu caminho? Muitas delas nem mais vivas estão...

Cada amigo que perdi, cada parente que se foi. Entre eu e cada uma das incontáveis pessoas que conheci existe um "nós". Existe um nó. Alguns, bem atados. Outros, desfeitos.

E porque penso nisso?

Talvez porque já tenha vivido tanto, mas tanto, tenha tido tantas experiências, que já se tornou impossível lembrar de todas, catalogá-las, organizá-las. E ainda reclamamos da nossa curta existência...

Vivi apenas 30 anos. Só um terço, na melhor das perspectivas. Ou quase tudo, no pior dos casos. Mas vivi. Tão intensamente que, quando tento relembrar, fico perdido, fico agradecido. Não sei o que sou, de onde vim, pra onde que vou. E porque isso importa?

Há tanto tempo aí, disponível para se viver, que sempre acaba nos folgando algum para reclamar da nossa "efêmera" existência. Efêmera? É, somos ingratos.