Às vezes penso: quanta coisa já vivi. Se fosse listar o que já me aconteceu, não saberia nem por onde começar.
Infância? Os pés descalços, os primeiros amigos, a família... a escola, as "tias", merenda, lanche, recreio... cada natal, cada presente, cada aniversário. Cada choro, cada palmada.... Aprender a andar de bicicleta, cair, levantar. Cada série que cursei, um pequeno mundo que criei. Adolescência? Faculdade? Trabalho?
Um pequeno detalhe destranca uma porta esquecida na memória. Talvez fosse mais fácil separar as lembranças por sentidos... cada imagem, cada sabor, cada música que gostei... não, não... impossível!
As cidades, as casas que morei, poucas, eu sei, mas ricas em lembranças, em histórias. E as pessoas? Quantas cruzaram meu caminho? Muitas delas nem mais vivas estão...
Cada amigo que perdi, cada parente que se foi. Entre eu e cada uma das incontáveis pessoas que conheci existe um "nós". Existe um nó. Alguns, bem atados. Outros, desfeitos.
E porque penso nisso?
Talvez porque já tenha vivido tanto, mas tanto, tenha tido tantas experiências, que já se tornou impossível lembrar de todas, catalogá-las, organizá-las. E ainda reclamamos da nossa curta existência...
Vivi apenas 30 anos. Só um terço, na melhor das perspectivas. Ou quase tudo, no pior dos casos. Mas vivi. Tão intensamente que, quando tento relembrar, fico perdido, fico agradecido. Não sei o que sou, de onde vim, pra onde que vou. E porque isso importa?
Há tanto tempo aí, disponível para se viver, que sempre acaba nos folgando algum para reclamar da nossa "efêmera" existência. Efêmera? É, somos ingratos.