terça-feira, 25 de outubro de 2022

À Tout le Monde

 Aos poucos, vou morrendo por dentro. Cada dia é menos um dia, numa conta cujo cronômetro cego nos dá uma falta de ar e um desespero iminente. Essa sensação de impotência perante uma sociedade e uma estrutura que só serve para nos explorar e nos humilhar exige uma resiliência que excede minhas capacidades.

Nada resta, senão se entregar ao doce beijo etílico da cevada, e ao sono que nunca restaura nem descansa. Cada dia durmo mais, cada dia mais cansado, mais olheiras. Até quando?

Desabafo, aqui, em silêncio. Porque as redes sociais são barulhentas até demais. Este canto é como um chalé com sua lareira, em um lago na Patagônia. Aconchegante e silencioso. Solitário e primitivo. Calor em meio ao frio. Uma pena que só venha para cá em dias como estes.

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

O abismo de Nietzsche

Sumo. De tempos em tempos. Mas como todo bom filho pródigo, acabo voltando. Não sei porque; só sei que é este cantinho virtual que me atrai em determinados momentos. Talvez seja a paz. Ninguém mais lê ou se interessa por blogs que, de certa forma, me faz sentir mais confortável em expor meus sentimentos aqui.

Como alguém que conversa com um amigo, numa mesa de bar. É diferente de divagar em redes sociais, ou nos vídeos do youtube. É mais... intimista. Sim. Intimista. Me sinto bem aqui. Tão confortável que só aqui tenho capacidade de expor minha tristeza.

É um momento? Pode ser. Mas pode ser também outra coisa. Não sei. Tenho atravessado um vazio existencial há alguns anos, desde que me vi tragado por uma rotina burocrática, inóspita e insuportável dentro do meu serviço.

Pode soar repetitivo - bem, não sei se já disse isso em algum lugar, mas certamente já disse à mim mesmo inúmeras vezes: me sinto um peso tão morto que, morto, valho o mesmo que vivo. Sem sofrer. Porque deixo uma tristeza, mas passageira. Uma saudade, mas efêmera. E, por outro lado, deixo uma pensão, a mesma renda que tenho hoje, sem precisar ser. Nem estar.

Tem horas que penso que até mesmo a minha ausência possa servir de exemplo mais útil que a minha presença anestesiada, entorpecida, vazia e angustiante. Registro aqui aquilo que já me faz mal externar aos próximos. Porque isso as irrita. Porque isso traz reações de repulsa, de menosprezo. Vivemos num mundo sem paciência. Num mundo onde qualquer qualidade ou qualquer boa ação é percebida como dever, e nossas omissões, imperfeições e erros são intoleráveis.

Tô cansado. Sem esperança. Sem perspectiva de mudar de vida. Refém da minha estabilidade, como um pássaro aprisionado em um gaiola. Pássaro que, ainda que receba ração todo dia, não tem mais a alegria para cantar.




terça-feira, 18 de julho de 2017

Divagar ou Divulgar?


Sempre tive uma queda imensa por escrever (afinal, o que estaria fazendo aqui no Medium se assim não o fosse, não é?) Também sabemos que o hobby da escrita quase sempre vem associado ao da leitura. E eu até que me considero um bom leitor, embora ainda esteja longe, muito longe, de ler tudo àquilo que já me propus à ler (missão impossível).

Quando me perguntam quais os melhores livros que eu li, quase sempre me forço a relembrar os melhores romances, dos quais ora cito “A Montanha Mágica”, ora indico “Crime e Castigo”, ou então recomendo “Dom Quixote”. Mas eu preciso confessar que esses não são os meus livros favoritos. Bem, até são, dentro dos seus estilos. A verdade é que eu sempre fui apaixonado por outro tipo de leitura: divulgação científica.

Aí, fica fácil: “Um mundo assombrado pelos demônios”, “A grande história da Evolução”, “Dança do Universo”, “Bilhões e bilhões” ou “O Universo em numa casca de noz” saltariam aos olhos, com um grande e largo sorriso.

Desde o século passado, faço meus textos. Já tenho um blog (este!) há alguns anos, onde vez ou outra, assim como aqui, uso para extravasar meus sentimentos e para divagar um pouco sobre minha visão fenomenológica deste mundo.

Mas, há alguns meses, me perguntei: e porque não divulgar? Porque não partir pra uma área com a qual sempre me senti atraído? Mas a minha formação é direito… e direito é chato pra caramba. Ciência humana. Mas, bem, eu gosto de história. Curto antropologia e psicologia. É, até seria cabível. Ou não. Como saber? Só tentando.

Só escrevendo. Ou então… só gravando. Sim, gravando. Acho que a grande sacada da divulgação científica dos últimos anos é o Youtube. A quantidade de canais de divulgação científica (os quais, adivinha, são os que eu mais acompanho) que vem ganhando o público é cada vez mais crescente. Pirula ou Nerdologia, por exemplo. Então, porque não tentar?

Estou tentando. “Diretas de Direito”. Com o propósito de levar conteúdo jurídico à todos os públicos, de forma clara, concisa e com muita analogia (aproveita e se inscreve!) Agora é só ganhar intimidade com a 50mm e divulgar. E, de vez em quando, também divagar.


sexta-feira, 24 de março de 2017

Meu pai, meu herói!


Meu pai, Nelson Denker, nasceu em 22 de fevereiro de 1953. Foi o quinto de sete filhos homens, o primeiro dos irmãos à nascerem aqui em Campo Mourão. E, disto, tinha muito orgulho.

Sua primeira escola foi o Santa Cruz, o qual cursou o primário. Nunca esqueço de como ele contava, em risos, do medo que ele teve da freira que o recepcionou no seu primeiro dia de aula. Ela tinha um bigode tão grande que ele chorou e quis voltar pra casa. Mas teve que encarar a aula (e a freira). A vida continua.

Depois, foi estudar o Colégio Estadual, onde fez o ginásio e o científico - formou-se contador. Suas lutas estavam apenas começando. Seu irmão caçula, Luiz Carlos, sofria de uma doença degenerativa (similar à esclerose lateral amiotrófica, ou talvez essa mesma, por falta de um diagnóstico mais específico à época) e, no início da adolescência, veio a falecer. Não deve ser fácil perder o irmão mais novo. Mas a vida continua.

Depois, aos 19 anos, serviu o exército em Brasília, onde foi cabo e homenageado com o título de Pantera Negra (com quadro-diploma e tudo).

Em 29 de janeiro de 1977 casou-se com Odete Keller, minha mãe e, logo em seguida, ficaram "grávidos" do meu irmão mais velho, Thales Augusto. No entanto, quis o destino (ou o acaso, ou a inépcia médica) que Thales viesse a sofrer complicações em seu parto e, por obra de um laço do cordão umbilical, acabou ficando muito tempo sem oxigênio. Nasceu, mas com uma série de limitações.

Não consigo imaginar o quanto deve ser difícil, após uma gravidez normal e tantas expectativas, lidar com essa situação. Passou meses viajando à São Paulo em busca de tratamentos e remédios caros. Mas, fazer o que, a vida continua... menos para o Thales, que em 1982, deixou este nosso mundo e voltou para o dele.

Loirinho e de cabelos cacheados. Era um anjinho e, como tal, voltou para de onde veio, eles me diziam. Eu já era nascido, mas confesso que não tenho nenhuma recordação dele, senão pelas poucas fotos. Mais um golpe. Mas, é aquela velha história... a vida continua.

Eu esqueci de mencionar, mas já em 1979 ele lecionava na antiga Facilcam, depois Fecilcam e atualmente Unespar. Foi o primeiro dos sete filhos a concluir o ensino superior - formou-se em Economia na UEM, o qual havia sido aprovado no vestibular em 4º lugar. Aliás, ficou devendo um salto da ponte do Rio Ivaí, promessa de quem não havia se preparado pro vestibular...

Eu nasci em 1980. Meu irmão, Tarcisio Denker, veio em 1985 e, a caçula, Tarcila Oliane Keller Denker em 1987.

Trabalhou na COAMO, paralelamente ao magistério, por 19 anos, onde fez muitos e bons amigos.

As coisas iam bem até 1992. Em 08 de agosto meu pai e minha mãe sofreram um acidente de carro e, no dia 15 de agosto, minha mãe também resolveu partir. Foi um baque para todos, em especial para mim, com 12 anos, e meus irmãos, com 7 e 5 respectivamente. E imagina pro meu pai? Viúvo e com três crianças para criar...

Mas a vida continua. Em 1998, mais um percalço: perdeu seu irmão mais próximo, companheiro de COAMO e de Magistério na Faculdade, Alex Denker, por uma doença fatal: o câncer.

Mais tarde, conseguiu concluir o Mestrado pela Universidade Federal do Paraná, sem nunca ter saído de Campo Mourão - coisa que muito o orgulhava. Nasceu, cresceu, se formou e fez o mestrado vivendo aqui, nesta terrinha.

Depois, em 2007, meu avô, seu pai, também nos deixou. E, por fim, sepultou sua mãe, Erica, em 2016.

Desde o final de 2015, já com diabetes, meu pai vinha sofrendo com uma lesão nos pés que causaram diversas infecções e inflamações. Foram meses de internamento, altas, remédios e dores. A situação foi se agravando gradativamente e, por fim, uma insuficiência cardíaca colocou um ponto final em sua história. A vida, para ele, não mais continuaria.

Que fique claro que essa insuficiência cardíaca era tão somente relativa ao sistema circulatório; meu pai tinha um coração e um amor pela vida que poucas vezes pude ver em alguém. Quem o conhecia sabe do que eu estou falando. Amigo para todas as horas, um grande pai e, também, uma mãe.

Eu precisava contar um pouco desta história porque, quem convivia com ele, talvez não tivesse noção de quantas lutas e quantos períodos difíceis ele enfrentou. Ele não era de se queixar, muito menos de baixar a cabeça e ficar se lamuriando.

Talvez ele tenha vivido pouco. Sim, para nós, foi pouco. Mas ele sempre me disse que preferia viver 10 anos bem vividos à 100 anos mal vividos. Ainda conseguiu chegar aos 64, que apesar de muitas dificuldades, foram anos muito bem vividos. Pena que eu tenha compartilhado só 37 anos da minha vida com ele.

E, espero, ser tão especial para os que eu amo, quanto ele foi para nós.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Epifania

Eu foi naquele dia que eu morri. Ou não acordei. Algo assim. Todos os meus sonhos, meu planos e meus desejos nunca mais seriam realizados. O mais estranho de tudo foi a normalidade. Era um dia qualquer, como qualquer um outro. 

Me deitei, dormi, não acordei. E agora? Nasci em 1980. Confesso que minhas primeiras lembranças, ainda que confusas, devem ser de 1983, 1984. Antes disso, não me lembro. É como se eu não tivesse existido. De fato, não existi antes de 1980. E agora, eu não existo mais.

O que foi isso? Existência? Existencialismo? Um flash, um sopro, sonhos, alegrias, tristezas e agora, nada. Tinha tantas viagens para fazer. Tantas coisas para dividir. Um filho para criar. Uma esposa para amar. Mas assim, de repente, acabou tudo. E acaba mesmo. A história existia antes de 1980 e a história vai continuar existindo depois de hoje. Somos insubstituíveis - apenas para nós mesmos.