sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Felicidade a conta-gotas

Já disse uma vez Sartre, filósofo existencialista: “O homem está condenado a ser livre”.

Tá certo, eu sei, essas expressões, esses filósofos, palavras difíceis, paradigmas e paradoxos que nos deixam tontos... fica frio, não vamos viajar nessas loucuras.

Tudo começou esses dias atrás, quando alguém, no twitter, se perguntou se a felicidade seria um estado pleno e absoluto que podemos alcançar, ou então a vida que é feita de momentos felizes e outros não, que se alternam para sempre. Depois de ler tal questionamento lá estava eu, novamente, refletindo.

Refletindo porque, de certa forma, eu não estava chegando a nenhuma conclusão inédita. Era apenas um reflexo de uma idéia já bem sedimentada.

Cortando um pouco o caminho, posso adiantar que eu jogo no segundo time. Acho que até podemos nos definir como pessoas felizes ou infelizes, mas o que nos dá essa autoridade é um conjunto de momentos que vivenciamos. É certo que dia estamos alegres, felizes, outros nem tanto.

Penso isto porque, de certa forma, creio que nenhum ser humano é um adjetivo. Somos humanos, e só. Vivemos um dia após o outro e, a cada um desses dias, fazemos inúmeras escolhas e projetos que nos permitimos nos rotular. Fulano é medroso, beltrano é sincero, sicrano é invejoso.

O que eu quero dizer é que, ninguém é corajoso, medroso, falso ou sincero. Fazemos escolhas corajosas, medrosas, falsas ou sinceras. A cada novo desafio, nos comportamos de acordo com nossos sentimentos.

Ninguém nasce corajoso ou covarde. As pessoas nascem humanas e traçam seus próprios caminhos. Traçam seus próprios projetos de vida, baseadas em suas escolhas. Algumas dessas escolhas sim, podem ser corajosas ou covardes.

Nós humanos somos, portanto, apenas o projeto de nós mesmos. Mas não aquele projeto ideal que traçamos com base nas nossas potencialidades. Nós somos aquele projeto que estamos executando, dia após dia, nas pequenas escolhas que fazemos.

E eu? Eu sou quem eu decido ser... às vezes medroso, às vezes sincero, às vezes culpado. Sou imperfeito, como as escolhas que faço. Mas o importante é que eu sou meu, ou seja, senhor destas escolhas.

E o que isso tem a ver com a felicidade? Não sei. Talvez porque essas nossas pequenas escolhas reflitam sobre nosso estado de espírito, nos fazendo sofrer, nos fazendo sorrir. Talvez a infelicidade venha quando nos deparamos com as falhas do nosso projeto.

Acho que, no fundo, felicidade tem a ver com essa liberdade de escolha. Essas pequenas escolhas do dia-a-dia, a felicidade a conta-gotas. Liberdade essa citada na frase do primeiro parágrafo. Mas agora, se isso tudo foi um pouco chato, peço desculpas. É que isso é existencialismo.