Conhecer a si mesmo, a mais extraordinária experiência. Também a mais difícil, eu diria. Porque o autoconhecimento demanda a autodestruição. Como num sistema cartesiano, analisar-se significa desmontar-se, como um relógio, peça à peça, isolando-as e estudando-as para, por fim, compreender o todo.
A desconstrução é lenta, dolorosa. As engrenagens do pensamento estão acostumadas a girar num sentido, num mesmo ritmo, há tempos. Isto quando não estão enferrujadas ou danificadas. A imagem que projetamos de nós mesmos quase sempre corresponde à idealidade, não à realidade. Busco o equilíbrio na fenomenologia, no clonazepam e na esperança de conseguir, um dia, compreender todas as partes deste meu ser, neste tempo.
A esperança, faca de dois gumes, me leva a crer, além da desconstrução e da compreensão, na reconstrução. Em um novo eu. Em alguém livre dos medos, dos remédios e dos pre-conceitos. Em alguém leve e feliz. Em ser o projeto das minhas escolhas, Em ser, realmente, meu. Em ser e estar, existir e viver. Em ver e enxergar, escutar e ouvir, pensar e criar.
Mas são tantas engrenagens, parafusos e ponteiros...