segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Apoptose, autocompreensão e autofagia

I - Caos

Estou suspenso. Desfeito, mas não em peças, porque Descartes me enganou. Me desarranjei na vã esperança de compreender a mim pelos mais ínfimos pedaços do meu ser e, absorto, descobri que não me constituo de partes. Não me reduzo cartesianamente à elementos autônomos, desmontáveis  e substituíveis.

II - Érebos

Epifania. Eu não me desmontei; eu me destruí. Não há encaixes, eu nunca fui um quebra-cabeças. Aquilo que, pouco à pouco, rompia e rasgava, era eu mesmo. Um todo, sem partes. Agora, sou partes de nenhum todo. Enquanto acreditava, peça à peça, estar me desmontando, eu estava ruindo, desmoronando.

III - Gaia

Entre os escombros daquilo que eu fui um dia, uma pequena semente parece ganhar vida. Em meio aos labirintos dos cacos onde outrora pulsavam ideias e sonhos, o gérmen caminha em direção à luz. Ele parece absorver, alimentar-se dos detritos, sólidos e etéreos, que um tolo um dia julgou ser um ente, tal qual um relógio, compreensível em partes.

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