Definitivamente, não dá mais. Novamente uma crise existencial se instala dentro do meu ser e me atormenta, dia e noite. Passo o dia todo com aquela sensação ruim no estomago, uma fraqueza constante, um pouco de enjoo e o peito pesado. A vontade de chorar vem o tempo todo e, alguns momentos do dia, os olhos túmidos umedecem.
Acredito no existencialismo mas, ao contrário da corrente majoritária, não vejo a liberdade como algo absoluto. As escolhas estão ali, é verdade, mas nós, humanos, não somos assim tão livres quanto pensamos ser. Há, dentro de cada um de nós, um sistema legislado pelo nosso código genético que, de certa forma, nos faz tender a adotar determinadas escolhas na vida. Outras vezes, nem se trata tanto de programação genética, mas sim de questão hormonal mesmo, de idade, de sentimentos, de sensações.
Não quero me dedicar a explanar sobre isto, neste exato momento. O que me traz aqui é uma tristeza, talvez crônica, acentuada pela responsabilidade da paternidade. Não que a paternidade, em si, seja o problema. Ela não é; ela é o que me faz mais feliz em toda a minha vida. E ainda escreverei sobre o maior tesouro que eu tenho: meu filho. Mas em outro momento. O que eu quero deixar claro é que a paternidade transforma a gente, de forma marcante e definitiva. E é ai que entraria, em tese, a questão da programação genética.
É amor, é claro, e não há dúvidas disto. Mas a paternidade, assim como a maternidade, transforam a gente de tal forma que talvez seja impossível descrever. E não falo isso apenas da paternidade biológica não. Falo da paternidade gênero. Ser pai ou mãe faz com todas as nossas vontades e convicções passem por uma fase de amadurecimento e de reformulação que, no final nos damos conta de que não somos mais a mesma pessoa.
Existe, sim, metamorfose no ser humano, e ela vem com os filhos.
Existe, sim, metamorfose no ser humano, e ela vem com os filhos.
E o que não dá mais? É doloroso, é um ato de sofrimento companhar as notícias e se deparar com um mundo cada vez mais caótico. Cada vez mais raivoso. Cada vez mais à beira de um colapso humanitário. Estado Islâmico, crise migratória, terrorismo, fome, conflitos e, o mais deprimente, é a passividade das nações sobre tais assuntos.
Essa semana uma foto de um garoto que faleceu afogado durante uma tentativa de migração ilegal rodou o mundo, a internet e as redes sociais. E eu não consigo olhar pra ela. Eu a vi. Eu li a notícia, mas a imagem me causa náusea, mal estar. O pobre garoto deve ter aproximadamente a idade e o tamanho do meu filho, hoje.
Porque as pessoas precisam se mudar para estarem próximas dos recursos necessários? Porque não levamos os recursos à estas pessoas? "Ser" sempre foi um objeto de sofrimento, com tanto preconceito e desigualdade. E "estar" também parece sofrer com a crise. Sei que existem questões como fronteiras e soberania que precisariam ser revisadas. Mas "ser" e "estar" não deveriam ser tão complexos, tão polêmicos. Que direito é esse que invocamos ter sobre a superfície do nosso mundo?
Isto não me deixa em paz. Não me deixa pensar com clareza. Não me deixa estar bem. Este pequeno anjo caído na praia é a imagem mais sutil, delicada e ao mesmo tempo aterrorizante da desumanidade que vigora neste início de século XXI.
Não dá mais; a vontade é desistir da humanidade, desistir da internet, das redes sociais, dos noticiários. Alienar-se em prol da saúde mental. Amar mais, sofrer menos. Maldita empatia, maldita compaixão. Me coloco no lugar do pai que perdeu dois filhos e a esposa. Esse hábito de se torturar se acentuou com a paternidade. Antes, quando via documentários sobre a vida selvagem, torcia pelos leões e guepardos. Hoje, torço pelos gnus e pelos antílopes. Não abro mais qualquer notícia. Não aceito mais ver qualquer imagem.
Não sou mais a mesma pessoa. E não sei se ainda me considero "humano", pois se o seu conceito for se pautar por uma média do que são as pessoas, eu tenho impressão de que estou bem à margem do que o mundo é.
Imagine, de John Lennon, talvez tenha dito muito do que eu gostaria de dizer, aqui, neste desabafo. Você podê revê-lo, abaixo. Ou fazer um minuto de silêncio, para refletir.
Ou simplesmente ignorar.
Essa semana uma foto de um garoto que faleceu afogado durante uma tentativa de migração ilegal rodou o mundo, a internet e as redes sociais. E eu não consigo olhar pra ela. Eu a vi. Eu li a notícia, mas a imagem me causa náusea, mal estar. O pobre garoto deve ter aproximadamente a idade e o tamanho do meu filho, hoje.
Porque as pessoas precisam se mudar para estarem próximas dos recursos necessários? Porque não levamos os recursos à estas pessoas? "Ser" sempre foi um objeto de sofrimento, com tanto preconceito e desigualdade. E "estar" também parece sofrer com a crise. Sei que existem questões como fronteiras e soberania que precisariam ser revisadas. Mas "ser" e "estar" não deveriam ser tão complexos, tão polêmicos. Que direito é esse que invocamos ter sobre a superfície do nosso mundo?
Isto não me deixa em paz. Não me deixa pensar com clareza. Não me deixa estar bem. Este pequeno anjo caído na praia é a imagem mais sutil, delicada e ao mesmo tempo aterrorizante da desumanidade que vigora neste início de século XXI.
Não dá mais; a vontade é desistir da humanidade, desistir da internet, das redes sociais, dos noticiários. Alienar-se em prol da saúde mental. Amar mais, sofrer menos. Maldita empatia, maldita compaixão. Me coloco no lugar do pai que perdeu dois filhos e a esposa. Esse hábito de se torturar se acentuou com a paternidade. Antes, quando via documentários sobre a vida selvagem, torcia pelos leões e guepardos. Hoje, torço pelos gnus e pelos antílopes. Não abro mais qualquer notícia. Não aceito mais ver qualquer imagem.
Não sou mais a mesma pessoa. E não sei se ainda me considero "humano", pois se o seu conceito for se pautar por uma média do que são as pessoas, eu tenho impressão de que estou bem à margem do que o mundo é.
Imagine, de John Lennon, talvez tenha dito muito do que eu gostaria de dizer, aqui, neste desabafo. Você podê revê-lo, abaixo. Ou fazer um minuto de silêncio, para refletir.
Ou simplesmente ignorar.