Estava ali, andando, indo embora do trabalho para a minha casa, contemplando as coisas da vida, quando - epifania - eu posso morrer! Mas não morrer lá, longe no tempo e no espaço. Morrer agora, antes mesmo de chegar em casa.
Ainda bem - e a sua leitura é testemunha disto - que não foi naquele dia que eu morri. Mas aquela mesma sensação não me deixava em paz. Ela me assombrava, como uma tarefa ainda não cumprida, cujo prazo está se esgotando. E para que eu pudesse finalmente descansar (não morrer, apenas me livrar desta sensação!) eu descobri que era realmente uma tarefa que eu precisa cumprir: escrever.
Mas não escrever pelo simples fato de digitar alguma coisa. O simples tocar dos dedos no teclado não são nada mais do que empilhar palavras em prosa. Eu quero tocar o coração. Escrever na alma, no espírito daqueles que mais amo. Para muitos, minha esposa e minha filha, eu já tive a oportunidade de falar, de escrever, de compartilhar alguns dos mais sinceros pensamentos de amor, carinho e proteção.
Mas ainda tenho um pequeno menino que, embora eu diga que o ame todos os dias, ainda não pude deixar gravado em sua vida o amor que lhe tenho. E, isto fica ainda mais difícil em tempos de banalização do "amor". "Eu te amo" virou carne de segunda, comentário supérfluo de rede social, recadinho de amigos que, inclusive, desconhecem a essência da amizade. Amores e amizades eternas, que não sobrevivem dois verões.
O problema é que não existe nada maior que "eu te amo". Não se inventou ainda outra expressão que possa dar a mesma dimensão que o amor dá. Porque o amor ainda é o amor. Não chega a ser raro, mas é valioso, Não chega a ser comum, mas está ao alcance de todos. Me desculpem os "novinhos das redes sociais" (nem todos são novinhos, é bem verdade), mas vocês não sabem o que é o amor. Vocês o usam, enquanto palavra, tal qual uma hipérbole. E por mais que vocês o digam um milhão de vezes, isso não o torna verdadeiro. Não o torna amor de verdade. Gostar é gostar. Curtir é curtir. Mas só amar é amor.
E eu sei que existem diversas formas de se amar. Amar uma esposa, um marido. Amar um amigo ou um irmão. E amar um filho ou uma filha.
Eu tenho, felizmente, meus amores. Talvez caibam nos dedos das mãos e dos meus pés - mesmo que não sejam recíprocos. E eles são os nós que me dão a sustentação que tenho para viver. E eu me sinto tão mais bem à vontade quando deixo expresso o quanto essas pessoas são importantes para mim. O quanto eu as amo.
Mas... eu posso morrer. Eu posso morrer ainda hoje. Eu posso inclusive não chegar a concluir este texto. E é ai que eu penso: Thales! Meu filho querido, meu filho amado. Eu digo, todos os dias, o quanto o amo. Mas no auge dos seus dois anos, minhas palavras, meus gestos e meu carinho estão fadados ao esquecimento - pelo menos conscientemente.
Como é que eu poderia deixar a vida e meus amores, sem deixar escrito, aqui, para todo o sempre, o quanto os amo? E, se eu não o deixar, como é que vou provar para você, na sua adolescência rebelde, que eu sempre o amei? Que os "nãos" que eu te impus foram sempre para o seu bem? Que as repreensões foram sempre pensando no seu futuro. Não quero que me julgue o melhor pai do mundo aos seus 12, 15 anos. Quero que me julgue o melhor pai que eu pude ser, aos seus 30 anos. Quero que o homem que você se tornar possa me dizer: "você acertou, mesmo errando muitas vezes."
Amor maior que eu. Eu sempre disse: eu sou meu. Mas talvez não seja tão verdade; eu sou seu. Seu amigo. Seu professor, seu aluno. Seu palhaço, seu patrão, seu funcionário, seu turrão. Seu pai.
Não acredito em vida eterna, mas acredito que viverei, para sempre, no seu legado. Não é meu DNA que você leva adiante; é a minha alma. Eu estou em você. Não é o fator sanguíneo ou a cor dos olhos. É a essência. É o amor e o caráter o que eu quero replicar, que eu quero multiplicar. Eu dou à você a minha vida, sem morrer, todos os dias. E morrerei sem deixar de viver, se preciso for.
Aquela sensação de morte iminente, passou. Sei que ainda posso morrer, a qualquer instante. Mas se isso vier a ocorrer, que minhas palavras sejam a cristalização dos sentimentos que eu dia eu nutri, por aqueles que um dia eu amei.
P.S.: Eu amo vocês.
Aquela sensação de morte iminente, passou. Sei que ainda posso morrer, a qualquer instante. Mas se isso vier a ocorrer, que minhas palavras sejam a cristalização dos sentimentos que eu dia eu nutri, por aqueles que um dia eu amei.
P.S.: Eu amo vocês.