quarta-feira, 30 de setembro de 2020

O abismo de Nietzsche

Sumo. De tempos em tempos. Mas como todo bom filho pródigo, acabo voltando. Não sei porque; só sei que é este cantinho virtual que me atrai em determinados momentos. Talvez seja a paz. Ninguém mais lê ou se interessa por blogs que, de certa forma, me faz sentir mais confortável em expor meus sentimentos aqui.

Como alguém que conversa com um amigo, numa mesa de bar. É diferente de divagar em redes sociais, ou nos vídeos do youtube. É mais... intimista. Sim. Intimista. Me sinto bem aqui. Tão confortável que só aqui tenho capacidade de expor minha tristeza.

É um momento? Pode ser. Mas pode ser também outra coisa. Não sei. Tenho atravessado um vazio existencial há alguns anos, desde que me vi tragado por uma rotina burocrática, inóspita e insuportável dentro do meu serviço.

Pode soar repetitivo - bem, não sei se já disse isso em algum lugar, mas certamente já disse à mim mesmo inúmeras vezes: me sinto um peso tão morto que, morto, valho o mesmo que vivo. Sem sofrer. Porque deixo uma tristeza, mas passageira. Uma saudade, mas efêmera. E, por outro lado, deixo uma pensão, a mesma renda que tenho hoje, sem precisar ser. Nem estar.

Tem horas que penso que até mesmo a minha ausência possa servir de exemplo mais útil que a minha presença anestesiada, entorpecida, vazia e angustiante. Registro aqui aquilo que já me faz mal externar aos próximos. Porque isso as irrita. Porque isso traz reações de repulsa, de menosprezo. Vivemos num mundo sem paciência. Num mundo onde qualquer qualidade ou qualquer boa ação é percebida como dever, e nossas omissões, imperfeições e erros são intoleráveis.

Tô cansado. Sem esperança. Sem perspectiva de mudar de vida. Refém da minha estabilidade, como um pássaro aprisionado em um gaiola. Pássaro que, ainda que receba ração todo dia, não tem mais a alegria para cantar.




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