"Que seja eterno enquanto dure", já disse o poeta Vinícius de Moraes, com toda beleza, lirismo e também, com muita razão. Sim, a mesma razão científica que usamos para teorizar a efemeridade do universo e sua estonteante beleza.
O "eterno", assim, é apenas um conceito ideal, intangível, que podemos traduzir, grosseiramente, como muito, muito tempo... milênios, quem sabe. E é esta "eternidade" que muitas pessoas, aqui almejam.
Não a eternidade etérea, celestial (ou infernal, no meu caso, caso exista!), mas a imortalidade do seu nome, nos seus feitos. Ramsés, Platão, Júlio César, Napoleão... histórias (muitas delas estórias) de pessoas que, por seus feitos, estão "imortalizados" no rol das grandes celebridades. Pessoas que influenciam e inspiram outras, séculos, milênios depois de "mortas".
Há algum tempo atrás, dei início à uma pesquisa genealógica, em busca dos meus ancestrais, minha origem. A dificuldade foi imensa e, com a ajuda de uma prima (alô Paulinha) hoje tenho uma base, ainda sutil, de quem foram meus antepassados, como e onde viviam.
Mas... quem eram eles? Além deste sobrenome - um elo de uma corrente que carregamos pelos séculos - que nos une, o que mais tempos em comum? Será que simpatizaríamos com seus ideais, suas lutas? Que medos, que angústias, que felicidades estes nossos ancestrais vivenciaram? Que mensagem teriam deixado para seus filhos, netos, tataranetos?
A não ser àqueles cuja estirpe possa ser diretamente ligada aos seus ancestrais famosos (como os Orléans e Bragança, em um exemplo bem luso-brasileiro), nós, assim como nossos ancestrais menos ilustres, estávamos fadados ao "esquecimento", ao verdadeiro descanso e silêncio eternos.
Em alguns casos, poderemos saber alguns dos nomes, até cerca de 500 anos atrás, mas nada mais que isto. Notem que, no parágrafo passado, disse (ou melhor, escrevi) "estávamos fadados ao esquecimento". Nossa geração está sendo presenteada, como nunca antes na história desta civilização (desculpem, foi mais forte que eu) com a possibilidade de construir, por si mesma, sua própria história e imortalizá-la, para todo o sempre (aquele sempre que sempre acaba).
E não precisamos de muito. Apenas que a internet continue existindo e resistindo ao tempo, acumulando histórias, acumulando conteúdo. Este blog, seu perfil no face, seu instagram, suas postagens no finado orkut... tudo isto, online, à disposição, daqui mil anos. Seus tatatatata...tataranetos vendo suas fotos bêbados na balada, ou aquela sua postagem incrivelmente preconceituosa [que se justifica pela nossa moral, que diz que hoje é normal (rimou!)].
Eu queria ter acesso à "internet" do nossos avós. Queria saber se meu tataravô era um escravo ou escravagista, ou se ele repudiava aquele costume tão... comum à sua época. Se meu ancestral achava a liberdade, igualdade e fraternidade coisas passageiras, e vibrou com as cabeças rolando ou, então, viu o mundo girar sobre o eixo dos seus ouvidos. E, em qualquer destas situações, o que seu filho (meu ancestral também) pensou disto?
Deixamos, aos poucos, pistas sobre quem somos, sobre o que pensamos, quem amamos. Nossos pequenos vícios, nossas grandes virtudes (e vice-versa). Vá ao Google, coloque seu nome, veja que história está sendo construída (meus queridos descendentes que leem este profético texto, séculos depois de minha morte, a Google era uma empresa que organizava as informações que existiam na internet). Seus fotologs, blogs, vlogs, artigos, redes sociais, sites, etc... estamos deixando um patrimônio cultural, um legado muito forte, algo que nos foi privado, por toda nossa ascendência.
Sinta o peso da responsabilidade de tudo que você posta, sobre seus ombros. Não é você que (sempre) quis ser imortal? Pois bem, enquanto durar esta eternidade, suporte as consequências!