segunda-feira, 13 de abril de 2015

Laços & Nós

"Aqueles que passam 
por nós não vão sós. 
Deixam um pouco de si, 
levam um pouco de nós."
Antoine de Saint-Exupéry


Hoje é um dia muito triste, pois mais um pedacinho de mim foi embora. Algo aqui dentro me impele a tentar transformar essa tristeza em força, a força em palavras e as palavras em um desabafo, numa espécie de adeus, ou "até mais".

Um dia, eu, você, nós nascemos. Alguns há mais tempo, outros ainda há pouco. Desde então nós sobrevivemos nesta grande barca chamada planeta Terra. Mas nunca estivemos sozinhos. Dos dias mais ingênuos de vida até o presente momento nós estabelecemos laços com nossos pais, irmãos, tios, primos, cônjuges, avós, e amigos.

Esses laços unem eu e você, por meio de uma "corda invisível" que eu chamo de amor. E o laço do amor é resistente, quase indestrutível.

Não é um simples laço; é um nó, muito bem atado. Nós que nos unem. Nós e os nós.

Quase todos os dias fazemos novos laços, mas os nós não são feitos assim, de uma hora pra outra. A nossa história, nosso amor, amizade e todo aquele carinho são os contornos e as voltas deste laço que nos ata.

Estes "nós" então se tornam uma extensão da nossa própria alma, e não nos vemos mais como indivíduos solitários. Temos nossos muitos nós e eles nos guiam nessa jornada mundana. Tal qual para o mastro e suas velas, essas cordas e esses nós nos dão a sustentação que precisamos para navegar nesta vida.

Hoje, infelizmente, um nó muito querido se desfez e, eu perdi um pouco do meu equilíbrio. Um pedacinho de mim escapou e foi embora, para sempre. Nossa história, nosso amor e nosso carinho, este fica. Mas aquela pessoa que estava do outro lado do nó se foi. É justo dizer que ela precisava ir. Precisava descansar, embora isso não alivie a saudade, o amor que fica.

A batalha pela vida, contra si próprio, é a mais terrível e a mais cansativa que existe.

Pois nada se compara ao câncer. Um pedacinho do seu próprio ser que se insurge, nas sombras, minando o próprio organismo. Como uma traição programada, suas próprias células, acima de qualquer suspeita, trabalham como terroristas, se multiplicando em silêncio, esperando o momento certo de executar o derradeiro atentado, sua própria destruição.

E o nó então se desfaz, deixando para trás apenas outro nó, aquele na garganta, além das incontáveis lágrimas nos nossos olhos.

Já perdi nós insubstituíveis nessa vida e o que nos deixa inconsolável é saber que não há nada que possamos fazer, senão assistir, passíveis e inertes, a partida de um ente querido.

Não há amor, não há um "nós" substitutível, porque entre eu e você, há uma história única. Mas há, sempre, novos amores. Novos laços, novos "eu e você". E é a um novo "nó", recém atado, que eu dedico toda a minha condolência. Deixo também meus pêsames a todos meus primos e tios, pois a perda é realmente imensa. Mas ninguém se apoiava tanto a este "nó" como minha pequena prima, minha "irmãzinha".

Descanse em paz, Jaqueline Denker. Obrigado por ter feito parte da minha vida. E saiba que nós daremos todos os nós e laços que forem necessários à (ainda) pequena Ingrith Denker!