Ah, dormir…
Não consigo me acostumar com a idéia de que algumas pessoas não gostam de dormir. Eu amo dormir.
Entregar-se àquela cama, macia e reconfortante, que te recebe com um abraço todas as noites. Esquecer dos problemas do dia-a-dia, do ritmo frenético que se impõe à nossa consciência. Relaxar todos os músculos do corpo, e perder, aos poucos, a consciência...
Ah, a doce perda da consciência... imergir delicadamente na escuridão total, libertar a mente da cansativa lógica mundana, das convenções abstratas, sem preocupações, sem prazos. Arrebatar-se suavemente, aconchegar-se e esquecer da constante luta contra a gravidade. Deixar o silêncio ocupar toda sua mente.
Cada sono tem sua eternidade, por mais efêmero que seja.
Eis que então... então vem o despertador! Essa máquina maldita que mede, que mensura nosso sono. Esse carcereiro do descanso, que mantém sempre um vínculo com o mundo externo, o tempo.
Acordar é sofrer. É trazer a tona a consciência trôpega, pura e cristalina, e lançá-la neste mundo de dor, de barulho, de incessantes luzes. Ativar, à força, todas as terminações nervosas, o olfato, a visão, a audição, o tato. É voltar a sentir todas as dores, crônicas e agudas.
É como se fôssemos mergulhados em água gelada, sem dó nem piedade e, num estalar de dedos, nosso cérebro fosse entulhado de novas informações. Imagens, sons, cores, lembranças, compromissos, escola, trabalho... Acordar é nascer de novo, todos os dias. Agora entendo a dor, o choro do recém-nascido. Acordar, nascer... doem!
Acordo todos os dias e, a primeira coisa que penso, é exatamente na hora em que irei dormir novamente. Dormir é tão bom que, quando lembro daquela velha metáfora sobre o sono eterno, a morte não me parece nem um pouco ruim.
Poderia ainda dizer que... ah, droga, meu celular despertou... lá vamos nós de novo!