segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Subjetividades objetivas

Ah, que saudades desse lugarzinho. Meu cantinho da insanidade, do desabafo, delírio e subjetividade. Desde sempre, me disseram, ensinaram e cobraram: seja claro e objetivo. Eis aí, nestes conselhos, as maiores dificuldades que ainda devo superar, na qualidade de "escritor" (uma hipérbole e entre aspas).

Desde que dei por mim, escrevendo, nunca fui muito objetivo. No meu trabalho, até me esforço. Mas nos meus textos, na minha "redação pessoal", ah, aí sempre foi difícil. Ainda mais com meu especial dom de perder o foco dentro de um determinado texto. Recobrando a razão, nem é sobre meu "estilo literário" que quero escrever.

Hoje, eu quero julgar. Mas talvez seja mais adequado dizer - quero classificar. Classificar você.

Tarefa árdua, complexa e ingrata. Como classificar uma pessoa? Escolhendo um parâmetro. E o parâmetro, paradigma deste texto, não é a etnia, o clube de futebol, religião, beleza ou gosto culinário. É a objetividade ou a subjetividade da natureza de cada pessoa.

Tive esse insight quando assistia a um filme chamado "Se enlouquecer não se apaixone" (título original - it´s a kind of a funny story). Mas o filme pouco importa, foi apenas um comprimido de LSD para o delírio que vem a seguir.

Ao que interessa... arrisco dizer que existem três tipos de pessoas: as objetivas, as subjetivas e todas as demais, que flutuam num meio termo até hoje inominado por este que vos fala.

As pessoas objetivas são aquelas que tornam tudo mais simples, fácil. Decidem, quase sempre no impulso. Não tem tempo ruim, não tem sopesares, não existem outras pessoas para se levar em conta. Levam a vida com mais leveza na mesma proporção em que tropeçam e caem. E levantam.

Os objetivos tem uma enorme dificuldade em lidar com as diferenças, em especial aceitá-las. Quando programam um evento, um cinema ou uma viagem, usam a si mesmos como parâmetros. Exatamente por serem débeis na arte de compreender a subjetividade dos demais, levam em conta o que acham que é bom. Suicídio, para os objetivos, é uma loucura. Gastam tão pouco tempo consigo mesmas, imersas em seus pensamentos, que sofrem depressão aguda toda vez que ficam sozinhas por algumas horas.

Sabe aquele cara descolado do colégio, que todo mundo gosta? Aquele mesmo, que não consegue entender que aquele amigo calado também sabe curtir a vida. Só que de outro jeito. Ele nunca vai entender, por exemplo, porque você quis ficar em casa ao invés de curtir "a" balada da semana.

No outro lado do pêndulo estão os subjetivistas. Ah, os subjetivistas. Fazem de qualquer escolha uma decisão espiritual, existencial. Gostam de levar em conta os detalhes, os gostos e as opiniões alheias. Isso quando as perguntam, pois a subjetividade geralmente os fazem refletir mais do que falar.

Suas escolhas não são simples. Também, pudera. Quantas pessoas ele pode afetar com sua decisão? Vou locar um filme, mas qual? Fulano não gosta disso, beltrano prefere aquilo. Que lugar ir? Joãozinho não tem dinheiro para acompanhar essa festa, tenho que pensar em outra opção. Se eu escolher um restaurante a beira-mar, a brisa gelada pode piorar a febre do Zezinho.

Os subjetivos são reféns. Reféns de suas escolhas, escravos das suas dúvida, quase sempre sujeitos passivos em suas próprias vidas. Quando muito, importantes coadjuvantes que se empenham no brilho estelar de seus amigos cativantes, simpáticos e tão... objetivos.

Introspectivos, reflexivos, observadores e, quase sempre, melancólicos. 

Falta ainda falar da "terceira classe", aqueles que se encontram no limbo não muito claro que permeia ambas personalidades antagônicas. Aqueles cujo pêndulo não alcança as extremidades, graças ao equilíbrio. Mas... acho que não será mais necessário.